Não dá para evitar: em algum momento, todo segmento vai ficar saturado. Para se ter ideia, mais de 3,8 milhões de novos negócios foram abertos no Brasil apenas em 2023. Isso significa que a concorrência aumenta a cada dia para as empresas brasileiras. Então, como prosperar em cenários altamente competitivos?
Uma das estratégias é a inovação.
A adoção de processos contínuos de inovação orientados pelo design cria novas rotas de conexão com os consumidores. Neste sentido, um direcional estratégico de negócio não deve estar baseado apenas em sustentar o que está consolidado, mas na busca por territórios de diferenciação.
Neste artigo, vamos abordar como identificar as características de um mercado saturado e encontrar caminhos de crescimento estáveis para se diferenciar da concorrência.
O que vamos falar
- O que é um mercado saturado?
- Como identificar um mercado saturado?
- Oceano azul versus oceano vermelho
- Quais são as soluções para navegar em um mercado saturado?
- Conhecer o consumidor
- Inovação orientada pelo design
- Quais são os riscos de inovar
- Mensurar resultados em inovação
O que é um mercado saturado?
Mercados saturados são aqueles com grande número de empresas oferecendo produtos ou serviços do mesmo segmento. É importante ter em mente, porém, que a saturação depende do contexto. O que pode parecer saturado para um mercado específico, pode ainda não ter sido amplamente explorado em outro. Por exemplo, enquanto o setor de bicicletas elétricas pode estar saturado nas grandes metrópoles, ainda há oportunidades de crescimento em cidades em que a penetração deste meio de transporte é menor.
Outro fator que contribui para a saturação do mercado é o ciclo rápido de obsolescência. Nos setores em que a tecnologia avança rapidamente, produtos e serviços se tornam ultrapassados em um curto espaço de tempo, forçando lançamentos e inflando o mercado com muita oferta e baixa diferenciação.
Quando produtos ou serviços oferecidos são muito semelhantes, os consumidores têm poucas razões para escolher um fornecedor em detrimento de outro – resultando em uma concorrência baseada majoritariamente em preço.
Como identificar um mercado saturado?
Para identificar um mercado saturado, é essencial se atentar para indicadores que apontam para a alta concorrência com baixa margem de crescimento. Um dos principais sinais é a presença de muitos players oferecendo produtos ou serviços similares – o que pode ser observado por meio de pesquisas de mercado e análise de market share.
Outro fator é a estagnação ou redução nas vendas do segmento. Em razão do crescimento limitado, as marcas começam a competir principalmente por fatias de mercado ao invés de conquistar novos consumidores. Este cenário pressupõe uma tendência de redução de preços e promoções frequentes como estratégia principal para atrair clientes.
Isso não apenas reduz a lucratividade, mas também pode levar a uma disputa em que as marcas reduzem preços para ganhar participação de mercado – muitas vezes em detrimento da qualidade e do valor percebido pelo cliente. Além disso, mercados saturados frequentemente apresentam barreiras elevadas para a entrada de novos players, devido aos altos custos de marketing e à necessidade de diferenciação.
A saturação do mercado exige que as empresas busquem constantemente novas formas de se diferenciar e agregar valor para se manterem competitivas. Identificar essas características ajuda as empresas a desenvolver estratégias mais eficazes para se destacar em um ambiente competitivo; mirando no oceano azul e desviando do oceano vermelho.
Oceano azul versus Oceano vermelho
Criados por W. Chan Kim e Renée Mauborgne no livro “A Estratégia do Oceano Azul”, estes conceitos representam dois diferentes cenários de mercado. O oceano vermelho refere-se aos segmentos altamente competitivos, em que a concorrência é intensa e o crescimento é difícil, pois todas as empresas estão disputando um espaço limitado.
Em contrapartida, o oceano azul representa os novos mercados onde a concorrência é irrelevante. Negócios que adotam essa estratégia criam uma nova demanda, tornando a concorrência obsoleta. As águas “azuis” simbolizam a calma e a oportunidade, um ambiente onde o crescimento é ilimitado e a competitividade ainda não está presente. Essa abordagem incentiva as empresas a explorar territórios desconhecidos, inovando de maneiras que agreguem valor de formas novas e únicas.
A estratégia do oceano azul envolve rupturas. Para ser eficaz, é fundamental ter visão clara de futuro e estar aberto a mudanças.
É possível dizer que os conceitos de oceano azul e oceano vermelho oferecem uma nova perspectiva sobre a estratégia de negócio, focando na criação de valor e na inovação. Empresas que conseguem identificar e explorar essas oportunidades podem alcançar um crescimento significativo e sustentável, com fortes fatores de diferenciação e estabelecendo novas normas no mercado. Esses conceitos incentivam as empresas a olhar além dos limites convencionais e a buscar oportunidades onde antes viam apenas desafios.
Inovação como estratégia de navegação em mercados saturados
Com a velocidade de mudança do mercado e a entrada de novos players, cresce quem consegue se diferenciar. E a adoção de processos contínuos de inovação orientados pelo design abre possibilidades e cria novas rotas de conexão com os consumidores. Neste sentido, um direcional estratégico de negócio não deve estar baseado apenas em sustentar o status quo, mas na busca por territórios de diferenciação.
O lançamento de um produto ou serviço que redefina a categoria traz o benefício da construção do novo nicho, mas não impede que outros competidores passem a ocupar o mesmo espaço. Isso significa que o que antes era um oceano azul, com vastas oportunidades de navegação, passa a ser em um oceano vermelho – povoado por diversos players. O que fica, então, é a experiência construída pela marca. Se orientada pelo design, a chance de sucesso é ainda maior.
A evolução constante da oferta de valor é o caminho para navegar no oceano vermelho. A chave é encontrar o equilíbrio entre risco e ousadia. Para isso, é fundamental criar espaços propícios para emergirem as novas ideias. A inovação de valor passa por identificar e eliminar fatores que a indústria considera importantes, mas que não são valorizados pelos consumidores, enquanto criam e elevam fatores que realmente importam para quem se relaciona com a marca.
Seu consumidor está nadando em um oceano azul. Saiba quem ele é.
Navegar em um oceano azul pressupõe inovar e criar novos mercados, que desviem da concorrência. E, uma das maneiras para identificar e desenvolver novos mercados, é conhecer profundamente o consumidor. Vale ressaltar que entender a fundo as pessoas que se relacionam com um negócio envolve mais do que a coleta de dados demográficos e comportamentais; mas também passa por compreender suas motivações, necessidades, desejos, frustrações e aspirações.
Desta forma, uma abordagem que coloque o consumidor no centro de forma genuína, buscando no design a solução que conecta ideias a pessoas, será o farol de inovação que vai direcionar o futuro do negócio.
Manter uma rotina de conexão com o público possibilitará, de fato, compreender movimentos, se antecipar às mudanças de comportamento e responder com agilidade e estratégia. Neste sentido, análises quantitativas e qualitativas trarão insights sobre problemas e pontos de dor que podem ser endereçados. Se atentar para tendências culturais, sociais e tecnológicas e identificar mudanças nas expectativas dos consumidores são atitudes que começam a abrir caminho para a inovação.
Por outro lado, quando o foco está na concorrência e adota-se a estratégia de mimetizar suas ações, o novo negócio corre o risco de perder o aspecto de diferenciação e ficar igual ao restante do mercado.
A diferenciação vem da conexão. E conexões geram faíscas.
Ao dar espaço para emergirem insights, surgem também novas propostas de valor que não apenas atendem necessidades atuais, mas também criam novas demandas. O caminho é pensar além das soluções tradicionais e buscar maneiras de surpreender e superar as expectativas dos consumidores, gerando assim um novo mercado com menos concorrência e maior potencial de crescimento sustentável.
Em perspectiva, para alcançar um oceano azul, é necessário seguir um processo sistemático e contínuo de inovação. Essa abordagem permite que as empresas se destaquem e prosperem, evitando a competição acirrada e as armadilhas do oceano vermelho.
Virada de chave: inovação orientada pelo design
Negócios design-driven, aqueles que buscam soluções por meio do design, não apenas sobrevivem em mercados saturados: eles prosperam. O motivo é que o design traduz conceitos em conexões emocionais ao encantar e reduzir barreiras – sejam elas culturais, econômicas ou sociais. O olhar orientado pelo design transforma ideias intangíveis em experiências impactantes.
Uma marca forte, capaz de criar comunidades, serve como uma proteção para mercados saturados. É esta relação próspera que vai manter clientes engajados e leais, mesmo quando enfrentam uma infinidade de opções no mercado. São estes negócios que conseguem entender e responder às necessidades dos consumidores de maneira única, criando produtos e serviços que não apenas atendem, mas encantam.
O design oferece uma vantagem competitiva ao criar uma marca emocionalmente ressonante e diferenciada em mercados saturados. É um elemento essencial para qualquer empresa que deseja se manter relevante e competitiva.
A estratégia orientada pelo design ganha, ainda, mais uma vantagem competitiva. Empresas design-driven conseguem prototipar e testar rapidamente; com olhar afiado para os detalhes. Com isso, trazer ideias para a vida passa a ser parte do processo de inovação, abrindo margem para correções de rota mais ágeis.
Inovar não é sempre ser disruptivo. É ser estratégico.
Quando se fala no risco da inovação, é preciso lembrar que uma empresa estagnada oferece ainda mais desafios. Muitos negócios ainda têm medo de se distanciar do que o mercado oferece tradicionalmente e buscam manter o status quo. Entretanto, a abrangência da inovação também está nas melhorias incrementais, que têm potencial de mudar a vida do consumidor.
É fundamental reiterar, então, que o fomento à inovação deve ser uma estratégia contínua na rotina de um negócio, assim como um portfólio de investimentos diversificado – algumas iniciativas serão de baixo risco e outras mais arriscadas, mas sempre precisam ter potencial para gerar resultados significativos. Sim, inovar exige uma visão clara de futuro. Com um posicionamento sólido e um direcional estratégico eficaz, é possível traçar rotas de inovação que construam valor para os objetivos de curto, médio e longo prazos.
Falar de inovação sem considerar o design é como construir uma casa sem fundações sólidas. O design não apenas tangibiliza conceitos, mas confere uma dimensão emocional vital que muitas vezes é a verdadeira diferença entre o sucesso e o fracasso de um produto. Com design é possível partir para a prática.
A implementação de MVPs (Minimum Viable Products) e programas piloto são formas eficazes de testar novas ideias. Por exemplo, experimentar possibilidades diferentes com pequenos grupos de usuários ou mercados de teste oferece insights valiosos que podem reduzir riscos e otimizar recursos.
ROI: resultado sobre investimento inovação
Mensurar resultados em processos de inovação é uma tarefa complexa que vai além do cálculo de Retorno sobre o Investimento, o ROI. A inovação, especialmente quando disruptiva, requer um período prolongado para trazer impactos reais. Durante esse tempo,é necessário monitorar indicadores de curto, médio e de longo prazos.
Para inovações disruptivas, por exemplo, tempo é um fator crítico. Afinal, a criação de novos mercados mudam fundamentalmente a maneira como os negócios são conduzidos. Durante este período de gestação, é crucial utilizar indicadores que forneçam uma visão abrangente do progresso e do potencial impacto futuro. Aumento de margem de lucro, força de marca e contribuição de novos produtos para o faturamento global são métricas valiosas.
Além disso, a mensuração eficaz dos resultados de inovação deve incluir uma avaliação contínua e holística. Isso envolve não apenas olhar para os indicadores financeiros, mas também para aspectos qualitativos, como a conexão com o cliente, a cultura de inovação dentro da empresa e o alinhamento estratégico das novas iniciativas com os objetivos de longo prazo da organização.
Dessa forma, a empresa pode garantir que está no caminho certo para alcançar o sucesso sustentável, equilibrando a necessidade de ganhos rápidos com a busca de transformações significativas e duradouras.
A grande questão é: o que leva um consumidor a escolher seu produto ou serviço em vez do do seu concorrente? A resposta não está apenas em “empurrar” soluções para o mercado, mas em realmente entender as necessidades e comportamentos dos consumidores. Diferenciação é a chave aqui. Ao criar uma oferta que ressoe emocionalmente com os consumidores, é possível garantir uma posição sólida no mercado, mesmo em um ambiente saturado.
Por: Leo Massarelli
CX and innovation specialist, Founder and CCO of Questtonó